terça-feira, 30 de julho de 2013

O INDIVISÍVEL (ALLAH)



1.  Dize: "Ele é Allah, o Único."
                                                                                     

2.  "Allah, o Absoluto."

3.  "Jamais gerou ou foi gerado!"

4.  " E ninguém é comparável a Ele!"

(1)  Dize: "Ele é Allah, o Único." Esse versículo representa a própria afirmação de Allah de Seu monoteísmo único, Sua inimitável Unicidade.  Assim, o primeiro versículo é um comando ao profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, e quem quer que leia ou recite esse versículo para afirmar a Unicidade de Allah.  Não há outro como Ele.  Existem muitas unidades nesse mundo, mas não são tão singulares uma vez que cada unidade tem outras semelhantes a ela.  Por exemplo, existe um monte Everest, mas existem outras montanhas altas semelhantes a ele.  No caso de Allah, não existe outra unidade semelhante a Ele.  Todas as outras unidades podem ser divididas em partes, enquanto que Allah é único em Sua Unicidade e, como tal, é indivisível.

(2)  "Allah, o Absoluto."  A singularidade de Allah é percebida em Sua autossuficiência.  Por outro lado, todos os seres criados têm necessidades e dependem de outros para satisfazerem suas necessidades.  Allah não precisa de Sua criação de forma alguma, uma vez que não há nada que possamos fazer para melhorar ou beneficiar Seu estado, que já é perfeito.  Esse atributo de autossuficiência convida os crentes a refletirem sobre o propósito e objetivos de sua adoração.  A maioria das pessoas adora como se estivessem fazendo um favor a Deus.  O propósito da criação humana é adorar Allah porque todos os seres humanos têm uma necessidade de adorá-Lo.  Ele não precisa deles.  Os seres humanos precisam adorar e glorificar Deus porque a obediência à lei divina é a chave para seu sucesso nessa vida e na outra.

(3)  "Jamais gerou ou foi gerado". Esse versículo descreve outro aspecto da Unicidade de Allah.  As falsas religiões geralmente representam Deus em termos humanos dando a Ele características e/ou forma humanas.  Esse versículo lida basicamente com duas características distintas dos seres humanos e outras criaturas vivas em geral: passar a existir através do nascimento e procriação através do parto.  "Ele (Allah) não gerou", porque não há nada semelhante a Ele.  Uma criança é composta de porções (esperma e óvulo) dos corpos de seus pais, razão pela qual é semelhante a seus pais na forma e características.  Se Deus gerasse, haveria outro deus como Ele, o que Sua singularidade já negou.  O Todo-Poderoso também rejeitou o conceito de ter um filho porque a perspectiva de ter descendência geralmente requer uma parceira semelhante em forma ao parceiro.  Allah também rejeitou descendência a partir da perspectiva geral de que não é adequado, uma vez que ter um filho O reduziria à condição de Suas criaturas.  Isso responde à pergunta daqueles que alegam que se é consenso que Deus pode fazer qualquer coisa, Ele deve ser capaz de ter um filho, se desejar.  Não é adequado porque faria Deus como Suas criaturas.  Além disso, as pessoas têm filhos por necessitarem de ajuda para sobreviverem nesse mundo material ou pela necessidade da continuação da existência através da descendência.[1]Ao Se descrever como autossuficiente, Allah também negou essa possibilidade.

"Nem foi gerado" rejeita sutilmente a noção de que Jesus era Deus, porque ele foi gerado.  Porque para Deus ter nascido, Ele deve primeiro não ter existido, o que contradiz o atributo divino básico e único da existência eterna.

(4)  “ E ninguém é comparável a Ele!”. Allah fecha o capítulo com uma reafirmação do versículo de abertura.  Se Deus é único, nada pode ser igual a Ele.  Se nada é igual a Ele, então somente Ele é único.  Se somente Ele é Autossuficiente e toda a criação precisa Dele, nada na criação pode ser igual a Ele.  Se Ele não tem descendência, e nada e ninguém O gerou, nada ou ninguém pode ser igual a Ele, uma vez que todo ser criado passa a existir após um período de não existência.  Todo ser criado tem algo semelhante, chamado seu par, ou algo que se pareça com ele, chamado seu igual.  Se o Criador fosse de uma dessas espécies, teria um igual e uma semelhança.

Assim, esse capítulo contém a genealogia e descrição de Deus, o Misericordioso.  Foi revelado por Allah para refutar crenças atribuídas a Ele por pessoas desorientadas em relação à Sua similitude, forma, origem e descendência.  Por exemplo, aqueles que fazem pinturas ou estátuas de Allah alegam similitude, aqueles que adoram outros além Dele alegam similitude e aqueles que atribuem algumas partes de Sua criação a outros além Dele alegam similitude.  Entretanto, nada é semelhante a Ele em Seus Atributos, Seu Domínio ou Sua Divindade.  Portanto, somente Ele merece ser adorado por Suas criaturas.

Dize (Ó Muhammad): "Ele é Allah (Deus), o Único.  1

"Allah-us-Samad [Allah (Deus), o Absoluto (de Quem todas as criaturas precisam, (Ele não come e nem bebe)].  2

"Jamais gerou ou foi gerado!"  3

" E ninguém é comparável a Ele!" (4)

(Alcorão 112:1-4)

Interpretação

(1)  "Dize" uma afirmação decisiva no que se acredita e está ciente. "Ele é Allah (Deus), o Único", que significa a unicidade está confinada a Ele, somente Ele possui perfeição, os mais belos nomes e atributos supremos perfeitos.   Ele não tem paralelos e é incomparável.

(2)  "Allah-us-Samad" [Allah, o Mestre Autossuficiente] de Quem todas as criaturas precisam. Todos os habitantes do mundo superior e inferior precisam extremamente Dele.  Suplicam a Ele por suas necessidades e se voltam para Ele com suas preocupações porque Ele é perfeito em Seus atributos e onisciente, Cujo conhecimento é perfeito. É o mais paciente, Cuja paciência é perfeita, o mais misericordioso, Cuja misericórdia é perfeita.

(3)  E é por Sua perfeição que "Jamais gerou ou foi gerado" devido à perfeição de Sua opulência [livre de todas as necessidades]

(4)  "E ninguém é comparável a Ele!". Nem em Seus nomes e atributos e nem em Seus atos.  Não tem nenhuma imperfeição.

Assim, esse capítulo estabelece a unicidade de Deus.

A BELEZA E A ELOQUÊNCIA DO ALCORÃO


As primeiras audiências do Alcorão eram habitantes do deserto da Arábia, orgulhosos das habilidades de seu idioma.  Seus bens materiais eram exíguos, mas seu idioma era muito mais avançado que sua cultura.  Ganhavam a vida através do comércio e empreendiam muitas viagens para comprar e vender produtos.   Suas longas viagens pelo deserto lhes dava tempo para meditarem sobre a natureza e a ordem da natureza das coisas.  Eram muito meticulosos em suas escolhas de palavras e muito específicos em seus discursos.  Adoravam a oratória e dicção e a comunicação eficiente.  Eram muito habilidosos na articulação de pensamentos mais delicados e muito refinados na expressão de ideias.  As palavras eram suas mercadorias e a eloquência sua obsessão e ponto forte.  Comunicar pensamentos mais delicados na forma mais sofisticada era suas obsessões.  Compor poesia e prosa era suas paixões.  Competiam entre si na habilidade de serem fluentes e eloquentes.  Produziam literatura elegante de alta qualidade, mesmo se os temas escolhidos fossem os mais insignificantes e profanos.  Desperdiçavam suas habilidades embelezando as histórias de seus encontros, explorações e aventuras amorosas, relatos exagerados de seu valor na guerra e as virtudes de seu vinho e suas mulheres.  Sua literatura escrita era escassa, mas tinham uma memória prolífica e memorizavam milhares de citações, anedotas e poemas.  Sua literatura era passada adiante para as gerações seguintes através de tradições orais.  Tinham tanto orgulho de sua dicção e eloquência que se declaravam os mestres da linguagem e que os outros tinham sido privados da faculdade da palavra.  Comparadas à deles, as outras línguas eram meramente as comunicações cruas de homens mudos e inarticulados.   Referiam-se aos não árabes como “Ajums”, aqueles que sofrem de impedimentos da fala.

Quando os árabes ouviram o Alcorão pela primeira vez, ficaram assombrados com sua eloquência e ouviram com admiração.  Nunca tinham ouvido antes na vida um sermão tão impactante e majestoso.  Seus instintos os convenceram de que um discurso tão impressionante e nobre só podia ser divino, não uma criação humana.  Era muito mais sublime e solene que toda a sua literatura junta.  O Alcorão proclamou que não era uma composição feita pelo homem e desafiou sua audiência a apresentar qualquer composição que se equiparasse ao seu estilo e elegância.  Declarou que os humanos não conseguiriam produzir uma única composição que se equiparasse ao seu calibre, mesmo que se unissem e coordenassem seus esforços.  Lançou o desafio:

“E se estais em dúvida acerca do que fizemos descer sobre Nosso servo, fazei vir uma surata igual à dele, e convocai vossas testemunhas, ao invés de Deus, se sois verídicos”. (Alcorão 2:23)

Os compositores especialistas da Arábia ouviram o desafio, mas não puderam apresentar uma resposta.   Comparados ao Alcorão seus esforços literários pareciam desajeitados e infantis.  Sentiam como se fossem novatos inexperientes.  Os poetas prolíficos e eminentes pareciam imaturos. Os oradores entusiásticos viram-se sem palavras.  Foram humilhados pelas palavras do Alcorão.  Os mestres da língua árabe não conseguiram encontrar nenhuma falha ou lapso na linguagem do Alcorão.  Reconheceram a derrota e expressaram sua incapacidade de equipará-lo.  Muitos ficaram tão hipnotizados por sua mensagem que abraçaram o Islã na hora.  A evidência interna do Alcorão é suficiente para dissipar dúvidas.  Quando é lido, fica claro que nenhum homem poderia tê-lo escrito.

O homem é o tema do Alcorão.  Narra a história do homem como um todo e descreve todos os estágios da jornada do homem para seu último destino - nascimento, vida, morte, ressurreição e o julgamento de seus atos e, dependendo do julgamento, paraíso ou inferno.  Nesse mundo temporal e físico, a observação e experiência do homem são restritas ao seu nascimento, os testes e tribulações de sua vida e morte.  Seus cinco sentidos não o capacitam a perceber uma existência além dos confins do mundo físico.   Os olhos não veem a  luz emanando do outro mundo e os ouvidos não detectam os sons do outro lado.   As mãos não podem sentir, o nariz não pode cheirar e a língua não pode sentir o gosto do que não é desse mundo.  A mente, portanto, não consegue perceber a presença do mundo mais além.

O grande além reside depois das fronteiras da morte.  A ressurreição, o julgamento dos atos e paraíso e inferno são eventos programados para ocorrer lá.  De forma fluente e comovente e com uma aura de confiança, o Alcorão descreve esses eventos em detalhes.  Narra com o conhecimento da certeza.  Discute os eventos do outro mundo com a mesma facilidade e eloquência que os eventos desse mundo.  Desde que foi revelado seu discurso e eloquência não foram superados, não somente em árabe, mas também em todos os idiomas do mundo.   O desafio continua de pé.  O homem nunca será capaz de equiparar sua qualidade literária.
A poesia deve sua atração e brilho a mentiras e ficção.  O poeta deixa sua imaginação solta, que vagueia desenfreada para além do reino da realidade.  Quanto mais ele se deixa levar por sua imaginação, mais belo é seu poema.  Quanto mais ele voa para o território da fantasia, mais fantasiosa e fabulosa é sua ficção.  A verdade é a primeira vítima de sua excursão para o território da fantasia.  As frases são seus brinquedos e a ficção é seu lugar de brincadeiras.  As palavras são suas ferramentas e sua oficina o salão de beleza, onde o que é simples torna-se sensual e sensacional e os fatos simples são vestidos para parecerem bonitos e apresentáveis.  Palavras belas e apropriadas são sua profissão e seu objetivo é provocar a imaginação de sua audiência.  Planeja mergulhar seus ouvintes em uma arena de ilusão, o mundo irreal e etéreo. 
O exagero é a especialidade do poeta, seu chamado especial.  Até um simples sorriso é um voo de fantasia para um poeta.  Estica a verdade até o limite, até que se torne uma mentira.  Com um pouco de embelezamento transforma um evento brando em um conto tentador.  Se a verdade não lhe agrada, segue adiante para diluir o efeito do fato.  Se o fato não se adequa à sua fantasia e o mistura com uma dose de mito, tirando o fato de foco.  Com palavras, pode tricotar um escudo para desviar o fato.  Assim, ele trivializa a verdade.  Torcerá e distorcerá as palavras e atacará a verdade até que produza o significado que deseja.  Cobre a verdade com camadas de interpretações até que a verdade torne-se uma estranha.  Com o uso hábil de palavras, pode batizar uma ficção e também ficcionalizar um fato.   Circula mentiras ao envolvê-las com camadas de fatos conhecidos e irrefutáveis.  Empresta credibilidade e respeito a suposições infundadas ao cercá-las de fatos respeitados.  A falsidade, assim, é fortalecida.  O texto poético é a prioridade de um poeta e seu talento consiste de frases fantasiosas, não de verdade.  A poesia agrada a estética e o intelecto, mas não é verdade.  Sobre os poetas, o Alcorão diz:
" E os poetas que seguem os insensatos. Não tens reparado em como se confundem quanto a todos os vales? E em que dizem o que não fazem?” (Alcorão 26: 224-226)

" E não instruímos (o Mensageiro) na poesia, porque não é própria dele.  O que lhe revelamos não é senão uma Mensagem e um Alcorão lúcido.” (Alcorão 36: 69)
Que este (Alcorão) é a palavra do Mensageiro honorável.  E não a palavra de um poeta. - Quão pouco credes-  Nem tampouco é a palavra de um adivinho. Quão pouco meditais! (Esta) é uma revelação do Senhor do Universo.  (Alcorão 69: 40-43)
A diferença entre ele e o trabalho dos poetas, escritores e filósofos não é apenas de grau ou qualidade, mas também de caráter e classe.  Não se rebaixou ao modelo terreno de distorção e desonestidade.  Ao contrário, engrandeceu e higienizou os padrões de literatura e a introduziu em um novo patamar.  Impôs um requisito mais difícil para o padrão literário e exigiu honestidade e precisão absolutas.  Recusou-se a unir-se à ficção e à arte de ficcionalização de fatos e desdenhou o exagero.  Não ganhou fazendo uso das formas e meios dos outros trabalhos literários. 
Os gigantes literários conhecem as normas de gramática e dicção.  Ainda assim, não podem atender à regra estabelecida pelo Alcorão.  Estão em desvantagem porque sua competência não tem valia sem falsidade e ficção.  Se o exagero fosse removido de seus trabalhos, não sobraria muito.  Não conseguem imaginar a poesia sem um grau de mentiras e embelezamentos.  Assim, o Alcorão tirou as restrições dos fatos e liberou a verdade das garras de seus captores - os poetas, escritores e filósofos do passado, presente e futuro.  Expôs suas espertezas.  Quando se trata de assuntos que pertencem a esse mundo, conhecem os fatos, mas nem sempre escolhem ser honestos e precisos.  Entretanto, quando se trata de assuntos do além túmulo, são de fato charlatães que se apoiam em suposições e conjecturas.
Sua maioria não faz mais do que conjecturar,  e a conjectura jamais prevalecerá sobre a verdade;   Deus bem sabe tudo quanto fazem!  (Alcorão 10: 36)
"Se obedeceres à maioria dos seres da terra, eles desviar-te-ão da senda de Deus,  porque não professam mais do que a conjectura e não fazem mais do que inventar mentiras.ˮ (Alcorão 6: 116)
O Alcorão desafiou as normas aceitas de literatura e alcançou a eloquência e eminência sem recorrer a qualquer tipo de exagero.  Por causa disso, cada clássico literário criado em qualquer período da história e em qualquer idioma do mundo, recairia em uma classe inferior àquela do Alcorão.  Tem um caráter único que é todo seu.  Apresenta os fatos de forma clara e meticulosamente adere à narração precisa.  Mesmo quando cita uma parábola, a comparação nunca é enganosa e não distorce a verdade.  As palavras e frases que usa trazem a verdade inalterada.  Jura dizer nada além da verdade.  A precisão é sua prioridade e todo o seu texto pode ser aceito literalmente.  O tratado científico deve igualmente exato.  Sua adesão à precisão quando se trata de assuntos que pertencem a esse mundo, infunde fé e confiança nos crentes.  São convencidos de que os eventos programados para ocorrer além da morte também são retratados com a mesma exatidão e precisão e sem exageros.  A razão pela qual o Alcorão permaneceu incomparável em substância e estilo é tratar-se da absoluta verdade.  Diz a seu próprio respeito:
“Tais são os versículos de Deus que realmente te ditamos,  porque és um dos mensageiros.” (Alcorão 2:252)
Ele te revelou (ó Muhammad) o Livro (paulatinamente) com a verdade corroborante dos anteriores,   assim como havia revelado a Tora e Evangelho.  (Alcorão 3:3)
"Alif, Lam, Meem, Ra.  Estes são os versículos do Livro. O que te foi revelado por teu Senhor é a pura verdade; porém, a maioria dos humanos não crê nisso.ˮ (Alcorão 13:1)
    (In The Religion of Islam)

O ALCORÃO (II)



Milhões e milhões de muçulmanos estão absolutamente convencidos da grandeza e importância do Alcorão, que é usualmente mencionado com epítetos como “nobre,” “glorioso,” e “puro.”  O que comove tão profundamente o muçulmano quando ele recita o Alcorão, lê seus versículos ou mal o toca?

De acordo com a doutrina islâmica, o estilo do Alcorão é inimitável e de uma beleza e poder sobre-humanos.  Por mais que tente, nenhum homem pode escrever um parágrafo que seja comparável com um versículo do Livro revelado.  Isso tem a ver parcialmente com o mérito literário do texto e a eficácia das palavras – seu poder transformador e salvador – que é inimitável.  Ele leva um pastor iletrado às lágrimas quando lhe é recitado, e tem moldado as vidas de milhões de pessoas simples no curso de quase quatorze séculos; nutriu alguns dos mais poderosos intelectos conhecidos  nos registros humanos; tem transformado pessoas sofisticadas em crentes devotos, e foi a fonte da filosofia mais sutil e de uma arte que expressa seu significado mais profundo em termos visuais; transformou as tribos andarilhas da humanidade em comunidades e civilizações sobre as quais sua marca é aparente até para o observador mais descompromissado.

Recitar o Alcorão é a ocupação mais sublime e edificante para o muçulmano, mesmo quando ele ou ela não entende intelectualmente suas palavras, como é o caso com a maioria dos crentes não-árabes.  O desejo dos muçulmanos de recitar o Alcorão tão belamente quanto possível, e a arte de tilāwat, a recitação feita de forma adequada, se desenvolveu em uma arte de alto nível.  Mesmo ao recitar o Livro sem embelezamentos, deve-se observar certas regras de recitação.  O hafiz, que “preserva” o Alcorão, ou seja, o sabe de cor, é muito respeitado, e meninos e meninas são enviados com tenra idade para a mesquita para memorizar o ‘Livro.’

De modo a não corromper o caráter sagrado do Alcorão, deve-se ter o cuidado de não deixá-lo em um local onde alguém possa acidentalmente pisar, sentar ou desrespeitá-lo de qualquer forma; é extremamente desagradável usar qualquer livro, quanto mais o Alcorão, como apoio para qualquer coisa. Quando não estiver sendo lido, o muçulmano o restituirá à prateleira da estante, ou ao atril.   Algumas pessoas o envolvem cuidadosamente em tecido para preservá-lo e também para serem capazes de segurá-lo, se necessário, quando não estiverem em estado de pureza.  Elas também gostam de se assegurar de que ele não seja colocado em cima de outros livros, e evitam deixar o Alcorão em qualquer lugar. É absolutamente proibido levá-lo em locais onde se urina ou defeca ou que seja um lugar de impureza maior (banheiros, lixeiras, cercados para animais, esgotos, etc.).  Até mesmo a recitação do Alcorão não é feita nesses lugares.

Idioma do Alcorão

A visão corânica do mundo está muito atrelada ao idioma árabe, que, como o hebraico e o aramaico (o idioma falado por Jesus), pertence ao ramo semítico.  O Alcorão se define especificamente como uma ‘escritura árabe’, e a mensagem é moldada para a estrutura complexa do idioma escolhido, uma estrutura fundamentalmente diferente daquela dos idiomas europeus.  A lógica interna dos idiomas semitas é muito diferente daquela das línguas indo-européias como o inglês, latim, sânscrito e persa.  Cada palavra árabe pode ser rastreada até uma raiz verbal consistindo de três, quatro ou cinco consoantes das quais se derivam até doze modos verbais diferentes, junto com uma variedade de substantivos e adjetivos.  Se chama a raiz triliteral, e palavras específicas são formadas a partir dela pela inserção de vogais longas ou curtas e pela adição de sufixos e prefixos.  A raiz em si é ‘morta’ – impronunciável – até ser trazida à vida, ou ser vocalizada, pelas vogais, e é de acordo com a sua colocação que o significado básico se desenvolve em direções variadas.  A raiz foi descrita algumas vezes como o ‘corpo’ enquanto a vocalização é a ‘alma’; ou, é da raiz que cresce uma grande árvore.  Sem compreender os significados e os conceitos relacionados das palavras árabes, é impossível apreciar a riqueza dos significados associados, a dificuldade de traduzir palavras em inglês, e a inter-relação entre palavras árabes que são óbvias no original.

A preocupação dos muçulmanos com o idioma sublime do Alcorão se desenvolveu em forma do estudo de gramática e retórica, especialmente quando os não-árabes entraram no Islã em números crescentes e tinham que ser ensinados sobre as peculiaridades do idioma de revelação.  A crença de que o Livro era intraduzível forçou aqueles que abraçaram o Islã a aprender o árabe ou pelo menos se familiarizarem com o alfabeto árabe.  Muitas vezes isso levou nações a adotarem o árabe como suas línguas nativas, como é o caso com todas as nações árabes exceto a Península Árabe.  Isso teve imensas conseqüências para outros idiomas, como o persa, turco, malaio e muitos outros, que adotaram a escrita árabe.  Os ditos e expressões corânicos são usados tanto em literatura de alto nível quanto nas conversas diárias, mesmo entre não-árabes, e árabes não-muçulmanos.

  (In The Religion of Islam)

O ALCORÃO (I)


O Alcorão é a escritura islâmica, o que significa dizer que é a escritura dos seguidores do Islã.   O Islã é a religião estabelecida entre os árabes – um povo até então confinado à Península Arábica – pelo Profeta Muhammad no século sete.  O Alcorão foi revelado ao Profeta Muhammad por Deus através do anjo Gabriel; isso ocorreu em Meca, sua cidade natal, e parcialmente em Medina, onde ele teve sucesso em criar um estado em uma sociedade tribal sem estado.  A mensagem foi revelada em árabe, a língua do povo para a qual era inicialmente dirigida, embora a mensagem fosse essencialmente para toda a humanidade.  O Alcorão menciona especificamente que Muhammad foi o mensageiro para toda a humanidade, e que ele é o último mensageiro a ser enviado.  Portanto, o Alcorão é a mensagem final que substitui e reitera a religião básica de Deus ordenada aos judeus e cristãos, assim como também aos muçulmanos.  Hoje, o número total de muçulmanos no mundo é superior a um bilhão, representando quase um quinto da população do mundo.  Para todas as comunidades muçulmanas, qualquer que seja sua língua e onde quer que vivam, o Alcorão é sua escritura.

O Básico

A primeira coisa a ser compreendida sobre o Alcorão é sua forma.  A palavra árabe, ‘Alcorão,’ literalmente significa ‘recitação’ e ‘leitura’. Da mesma forma, o Alcorão foi recitado oralmente e registrado em forma de livro.  O verdadeiro poder do Alcorão permanece em sua recitação oral, já que é feito para ser lido em voz alta e melodiosa, mas os versículos foram registrados por escrito nos materiais disponíveis para auxiliar na memorização e preservação, e foram coletados e ordenados em forma de livro por iniciativa particular e, em um estágio posterior, também institucionalmente.  O Alcorão não foi destinado a contar uma estória cronológica e, portanto, o Alcorão não deve ser visto como uma narrativa seqüencial como o livro de Gênesis.  O livro árabe que atende pelo nome de Alcorão é quase tão longo quanto o Novo Testamento.  Na maioria das edições tem em torno de 600 páginas.

Em contraste com a Bíblia hebraica e o Novo Testamento, o Alcorão saiu da boca de uma única pessoa, que recitou o que ouviu do anjo Gabriel.  Por outro lado, as escrituras judaica e cristã são coletâneas de muitos livros que foram registrados por um grande número de seres humanos, e as opiniões diferem quanto ao seu status como revelação.

Como o Alcorão é Organizado?

O Alcorão é composto de 114 partes ou capítulos de extensão desigual.  Cada capítulo é chamado uma surah em árabe e cada sentença ou frase do Alcorão é chamado uma ayah, literalmente ‘um sinal.’  Como a Bíblia, o Alcorão é dividido em unidades separadas, chamadas versículos. Esses versículos não são padronizados em extensão ou métrica, e onde cada um começa e termina não foi decidido por seres humanos, mas ditado por Deus.  Cada um é um ato separado de locução de significado fechado, ou ‘sinal’, denotado pela palavra ayah em árabe.  A mais curta das suratas tem dez palavras, e a mais longa surata, que vem em seguida no texto, tem 6.100 palavras.  A primeira surata, a Fatihah (“A Abertura”), é relativamente curta (vinte e cinco palavras).  Da segunda surata em diante, as suratas diminuem gradualmente em extensão, embora essa não seja uma regra fixa.  As últimas sessenta suratas usam quase tanto espaço quanto a segunda.  Algumas das ayahs mais longas são muito mais longas que as suratas mais curtas.  Todas as suratas, exceto uma, começam com Bimillah hir-Rahman nir-Rahim, ‘Em Nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.’  Cada surata tem um nome que usualmente menciona um tema chave dentro dela.  Por exemplo, a surata mais longa, a surata al-Baqara, ou “A Vaca” recebeu esse nome por causa da estória de Moisés ordenando os judeus a oferecerem o sacrifício de uma vaca, que começa com Deus dizendo:

“E lembrai-vos de quando Moisés disse a seu povo: ‘Deus vos ordena que imolais uma vaca...’”  (Alcorão 2:67)

Uma vez que os vários capítulos são de extensão variada, o Alcorão foi dividido pelos eruditos do primeiro século após a morte do Profeta em trinta partes relativamente iguais, e cada parte é chamada um juz’ em árabe.  Essa divisão do Alcorão foi feita para as pessoas memorizarem ou lerem o Alcorão de uma forma mais organizada, e não tem influência sobre a estrutura original, já que são meras marcas nas laterais das páginas identificando a parte em questão.  No mês islâmico de jejum, o Ramadã, geralmente é recitado um juz’ toda noite, e o Alcorão inteiro é completado nos trinta dias do mês.

Traduções do Alcorão

Um iniciante deve saber alguns pontos sobre as traduções do Alcorão.

Primeiro, existe uma distinção entre o Alcorão e sua tradução.  Na visão cristão, a Bíblia é a Bíblia, não importa em que idioma esteja.  Mas uma tradução do Alcorão não é a palavra de Deus, porque o Alcorão são as palavras exatas em árabe faladas por Deus, reveladas ao Profeta Muhammad por Gabriel.   A palavra de Deus é apenas o Alcorão em árabe, como Deus diz:

“De fato, Nós o revelamos como um Alcorão árabe.” (Alcorão 12:2)

Uma tradução é simplesmente uma explicação dos significados do Alcorão.  É por isso que uma tradução moderna em inglês foi intitulada “The Meaning of the Glorious Quran (O Significado do Glorioso Alcorão)”: ela se empenha apenas em dar o significado, mas falha, como qualquer tradução, na reprodução da forma do Livro Sagrado.  O texto traduzido perde a qualidade inimitável do original, portanto fique atento até que ponto uma tradução reflete a mensagem original a cada nível do significado, e que provavelmente não se equiparará.  Por essa razão, tudo que é considerado como ‘recitação’ do Alcorão tem que ser feito em árabe, como a recitação do Alcorão nas cinco orações diárias dos muçulmanos.

Segundo, não existe tradução perfeita do Alcorão e, sendo trabalhos de humanos, cada uma delas quase sempre contém erros.  Algumas traduções são melhores em sua qualidade lingüística, enquanto outras são notadas por sua exatidão em retratar o significado.  Muitas traduções inexatas, e algumas vezes enganadoras, que geralmente não são aceitas como interpretações confiáveis do Alcorão pela maioria dos muçulmanos, são vendidas no mercado.

Terceiro, embora uma análise de todas as traduções em inglês esteja fora do escopo desse artigo, algumas traduções são recomendadas em relação a outras.  A tradução em inglês mais lida é a de Abdullah Yusuf ‘Ali, seguida pela de Muhammad Marmaduke Pickthall, a primeira tradução feita por um muçulmano inglês.  A tradução de Yusuf Ali é geralmente aceitável, mas seus comentários de pé de página, úteis às vezes, podem ser estranhos e inaceitáveis.  Outra tradução bem divulgada é a feita pelo Dr. Hilali e Muhsin Khan chamada ‘Interpretation of the Meaning of The Noble Quran (Interpretação do Significado do Nobre Alcorão).’  Embora seja a mais precisa, os muitos termos transliterados em árabe e os parênteses sem fim a tornam difícil de acompanhar e confusa para um iniciante.  Uma versão mais nova com um texto mais fluido foi publicada pela Saheeh International, e é provavelmente a melhor tradução, já que combina exatidão na tradução com legibilidade.

Exegese (Tafseer em Árabe)

Embora os significados do Alcorão sejam fáceis e claros de compreender, deve-se tomar cuidado ao fazer afirmações sobre a religião sem recorrer a um comentário autêntico.  O Profeta Muhammad além de trazer o Alcorão, também o explicou a seus companheiros, e esses ditos foram coletados e preservados até o dia de hoje.  Deus diz:

“E fizemos descer para ti (Ó Muhammad) a mensagem a fim de tornares evidente para os homens o que foi enviado a eles...”   (Alcorão 16:44)

De modo a compreender alguns dos significados mais profundos do Alcorão, deve-se recorrer a comentários que mencionam essas afirmações do Profeta assim como as de seus companheiros, e não ao que se entendeu do texto, já que seu entendimento do Alcorão é limitado ao seu conhecimento prévio.

Existe uma metodologia específica para exegese do Alcorão de modo a extrair o significado adequado.  As ciências corânicas, como elas são chamadas, são um ramo extremamente especializado da erudição islâmica que requer o domínio de múltiplas disciplinas, como exegese, recitação, estilo de escrita, inimitabilidade, circunstâncias por trás da revelação, ab-rogação, gramática corânica, termos raros, normas religiosas, e língua e literatura árabe.  De acordo com os eruditos de exegese corânica, o método adequado de explicar os versículos do Alcorão é:

(i)   Tafseer do Alcorão pelo Alcorão.

(ii)  Tafseer do Alcorão pela Sunna do Profeta.

(iii) Tafseer do Alcorão pelos Companheiros.

(iv) Tafseer do Alcorão pela língua árabe.

(v)  Tafseer do Alcorão pela ‘opinião’, se ela não contradisser as quatro fontes acima.

 (In The Religion of Islam)

O ESTILO DO ALCORÃO




Quais tópicos o Alcorão discute?  Ele cobre vários assuntos.  Mas o mais importante, fala sobre a unicidade de Deus e como viver uma vida de acordo com Sua Vontade.  Outros tópicos incluem doutrina religiosa, criação, lei civil e criminal, Judaísmo, Cristianismo, politeísmo, valores sociais, moralidade, história, histórias de profetas anteriores e ciência.

O Alcorão apela aos grandes exemplos humanos dos profetas anteriores e menciona seu grande sacrifício na propagação da mensagem de Deus, os mais importantes deles sendo Noé, Abraão, Moisés e Jesus.  O Alcorão elabora sobre as formas nas quais os seguidores dos profetas, especificamente os judeus e cristãos, têm ou não vivido de acordo com as mensagens proféticas.   Também discute o destino de nações anteriores que rejeitaram seus profetas, como Noé e Lot.  Providencia instruções sobre como viver uma vida agradando a Deus.  Comanda as pessoas a orar, jejuar e cuidar dos necessitados.  Discute questões de interrelações humanas, algumas vezes em grandes detalhes – como leis de herança e casamento – em uma maneira reminiscente de partes da Bíblia hebraica, mas estranha ao Novo Testamento.  O Alcorão diz às pessoas que elas devem observar as instruções de Deus puramente em nome de Deus e não para ganhos mundanos.  Alerta àqueles que negam as mensagens de Deus que serão lançados no fogo do Inferno e promete àqueles que aceitam as mensagens que receberão a bênção do Paraíso.

O Alcorão reconta o original de muitas das histórias de herança bíblica, especialmente a que Moisés (mencionado pelo nome mais do que qualquer outra pessoa) foi seguido pelo Faraó, seu grande inimigo e arquétipo corânico do mal humano.  Entretanto não oferece uma narrativa sustentada do tipo encontrado no Livro do Êxodo.  Tem muito a dizer sobre os deveres morais e legais dos crentes, mas não contém nada semelhante a um código de leis, que é a peça central do Livro do Deuteronômio.   Muitas passagens corânicas podem ser apropriadamente descritas como pregação, mas onde a voz do pregador nos Evangelhos é a de Jesus durante seu ministério na terra, no Alcorão é a do Deus eterno.

O Alcorão também repete certos versículos e temas às vezes, muda de tópicos e com frequência relata narrativas de forma resumida.  Podemos ver duas razões para essa característica.  Primeiro, serve a um propósito linguístico e é uma das técnicas retóricas poderosas do árabe clássico.  Segundo, todos os temas do Alcorão, não importa o quanto variem, revolvem em torno de um fio condutor comum ao longo de todo o livro: que todos os tipos de adoração submetida a outros ao lado de Deus ou junto com Deus é falsa, e que obediência a Ele e Seus profetas, Muhammad sendo um deles, é fundamental.   O Alcorão, ao contrário da Bíblia, não menciona genealogias, eventos cronológicos, ou detalhes históricos minuciosos, mas ao invés disso, usa eventos do passado e do presente para ilustrar sua mensagem central.  Então, quando o Alcorão está discutindo as propriedades de cura do mel ou a vida de Jesus, nenhum tópico é um fim em si mesmo, mas cada um está relacionado de uma forma ou outra à mensagem central – a unicidade de Deus e da mensagem profética.  Não importa que tópico seja, o Alcorão encontra a oportunidade para reportar a discussão a seu tema central.

Outro ponto importante para ter em mente é que o Alcorão não foi revelado de uma só vez, mas em partes ao longo de 23 anos.  Como as escrituras anteriores, muitas passagens foram reveladas em resposta a eventos específicos.  Frequentemente a revelação corânica vinha do anjo Gabriel ao Profeta Muhammad como resposta a perguntas levantadas por aqueles ao seu redor, crentes ou descrentes.  O Alcorão se dirige ao Povo do Livro (um termo usado pelo Alcorão para os judeus e cristãos), a humanidade como um todo, aos crentes e, finalmente, se dirige ao próprio Profeta, orientando-o sobre o que fazer em certas situações ou lhe dando apoio e conforto em face da ridicularização e rejeição.  Conhecer o contexto histórico e social esclarece o texto.

Algumas outras características notáveis do estilo do Alcorão são as que se seguem:

(1)  O uso de parábolas para atiçar a curiosidade do leitor e explicar verdades profundas.

(2)  Mais de duzentas passagens começam com a palavra árabe Qul – “Dize” – orientando o Profeta Muhammad a dizer o que se segue em resposta a uma pergunta, para explicar um assunto relacionado à fé, ou anunciar uma norma legal.  Por exemplo:

“Dize: “Ó adeptos do Livro, pretendeis vingar-vos de nós, somente porque cremos em Deus, em tudo quanto nos é revelado e em tudo quanto foi revelado antes? A maioria de vós é rebelde e desobediente.” (Alcorão 5:59)

(3)  Em algumas passagens do Alcorão Deus jura por Sua maravilhosa criação e fortalece um argumento ou elimina dúvidas na mente do ouvinte:

“Pelo sol e pelo seu esplendor (matinal),

Pela lua, que o segue,

Pelo dia, que o revela,

Pela noite, que o encobre.

Pelo firmamento e por Quem o construiu,

Pela terra e por Quem a dilatou,

Pela alma e por Quem aperfeiçoou…”  (Alcorão 91:1-7)

Às vezes Deus jura por Si mesmo:

“Qual! Por teu Senhor, não crerão até que te tomem por juiz de suas dissensões e não objetem ao que tu tenhas sentenciado. Então, submeter-se-ão a ti espontaneamente.” (Alcorão 4:65)

(4)  Finalmente, o Alcorão tem o que se chama de “as letras desarticuladas”, que são compostas do alfabeto árabe e que juntas não têm nenhum significado conhecido no léxico árabe.  Seu significado só é conhecido por Deus.  Aparecem no início de vinte e nove suratas na recitação cada letra é pronunciada e não as palavras que formam. Por exemplo, o primeiro versículo da surata Bácara aparece como Alif-Lam-Mim, três letras do alfabeto árabe pronunciadas individualmente.

Uma pessoa não familiarizada com o Alcorão pode achá-lo um pouco difícil de ler, especialmente no início, mas se tiverem esses pontos em mente se acostumarão com ele e, de fato, mesmo que seja uma tradução verão que é verdadeiramente um livro profundo e incomparável.
  ( In The Religion of Islam)

A SENDA RECTA




“Começo com o nome de Deus, Clemente, Misericordioso

Todos os louvores são para Deus, o Senhor de todos os Mundos.

Clemente, Misericordioso

Soberano do Dia do Juízo

Só a Ti adoramos e só de Ti imploramos ajuda!

Guia-nos à senda reta,

À senda dos que agraciaste,

Não à dos abominados, nem à dos extraviados” (Alcorão 1:1-7)

O profeta Muhammad, que Deus o louve, nos contou que esse capítulo no Alcorão não tem igual. Nada como ele foi revelado em qualquer escritura anterior. Quando alguém recita esse capítulo sinceramente, está professando sua crença como verdadeiro muçulmano.

Todos os louvores para Deus

Quando se afirma que todos os louvores são devidos somente a Deus, se está de fato reconhecendo que somente Ele tem todos os atributos de perfeição e somente Ele concede todas as graças que Sua criação desfruta.  E como gratidão é a essência da adoração, também se está reconhecendo que Ele é o único que merece ser adorado.

Senhor de todos os mundos

A palavra árabe para Senhor, Rubb, transmite vários significados que não são capturados de forma precisa em outro idioma. Significa que Ele é o dono, cria, sustenta e cuida de tudo que existe.  A única relação entre Ele e toda a criação é que Ele é o criador de tudo que existe.  Não pode, portanto, ser o pai de quem quer que seja em qualquer sentido real! Dizer que Ele é o Criador e o pai de alguma de Suas criações e uma contradição em termos.  Você não cria seu filho, você o gera.  Por causa disso, o Alcorão continua lembrando àqueles que alegam que Deus tem filhos (os árabes que costumavam dizer que os anjos são filhas de Deus, os cristãos que dizem que Jesus é o filho de Deus e uma seita judaica que costumava acreditar que Ezra é o filho de Deus) que Deus é o Criador e Dono de tudo.  

Clemente, Misericordioso

As duas palavras árabes, Rahman e Rahim, às quais essas duas palavras em português equivalem, são duas formas intensivas de uma palavra raiz que transmite o significado de misericórdia.  Rahman é mais intensivo que Rahim e se refere à misericórdia totalmente abrangente de Deus, Sua misericórdia com toda a Sua criação nessa vida e na que está por vir.  Rahim se refere à Sua misericórdia especial com o crente.  Nenhum ser criado pode, portanto, ser Rahman, mas seres criados podem ser descritos como Rahim em um sentido limitado e especial da palavra.

Soberano do Dia do Juízo

Deus é o Soberano de todos os dias e todas as coisas, mas embora algumas pessoas tenham uma soberania limitada ou até uma reivindicação falsa para tê-la, ninguém pode ser ou reivindicar se o soberano em qualquer sentido do Dia do Juízo.  Naquele Dia Deus perguntará a toda a Sua criação: “De quem é a soberania hoje?” E a resposta será: “A Deus, o Único que mantém controle absoluto sobre tudo que existe.”  Isso nos lembra do fato que esse mundo é apenas uma estação transitória na estrada para a morada final, na qual seremos recompensados ou punidos pelo que fizemos aqui.

Só a Ti adoramos e só de Ti imploramos ajuda!

Os versículos anteriores eram como uma introdução a esse.  É como se dissesse: porque reconhecemos o fato de que todo louvor é para Ti, que Tu és o Senhor de todos os mundos, o Clemente, o Misericordioso, e que Tu somente és o Soberano do Dia do Juízo, declaramos aqui que não adoramos a ninguém exceto a Ti e só a Ti imploramos ajuda.   Esse versículo enfatiza o fato de que é importante não apenas que adore a Deus, mas que não adore ninguém ao lado Dele, porque ninguém exceto Ele merece ser adorado.  Adorar no sentido mais amplo da palavra inclui não obedecer a ninguém exceto Ele no sentido absoluto, não amar a ninguém tanto ou mais quanto O ama e não orar para ninguém exceto Ele. Também inclui não buscar ajuda de ninguém, exceto Deus; isso não significa que não ajude ou aceite ajuda dos seres criados de Deus em assuntos nos quais eles tenham poder para ajudar.  Significa apenas que crê que mesmo que dê ou recebe essa ajuda, ela vem em última instância de Deus porque nada nesse mundo acontece sem Seu desejo e poder.  Então, é somente para Ele que está se voltando para ajuda e é Dele que, em última instância, se depende de forma absoluta.

Guia-nos à senda reta

Tendo reconhecido todas essas verdades sobre Deus e tendo declarado que somente a Ele adoramos e imploramos ajuda, vamos prosseguir agora pedindo a Ele que nos conceda a coisa que mais precisamos: o conhecimento e a adoção do caminho mais curto que leva a Ele.  Ao conhecermos quem é Deus estamos convencidos de que essa orientação deve vir Dele, que deve estar disponível para todos que querem segui-la e que não deve haver dúvida sobre o fato de que vem Dele.  Essa orientação, sabemos, não é encontrada em nenhum caminho completo exceto nas palavras de Deus, as palavras que Ele revelou aos Seus profetas escolhidos como Noé, Abraão, Moisés, Jesus e Muhammad, que Deus louve todos eles.  Mas também sabemos que nenhum dos livros que contêm aquela orientação está agora à nossa disposição, exceto um: o Alcorão.  É para esse livro divino que devemos nos voltar para uma descrição detalhada da Senda Reta que leva ao nosso Senhor.  Esse caminho é um caminho absoluto dado a cada profeta e mensageiro de Deus e não muda com a passagem do tempo.

À senda dos que agraciaste

A senda reta descrita no Alcorão não é um caminho teórico; é um caminho real que algumas pessoas tomaram antes de nós.  Como muçulmanos, acreditamos que cada profeta e mensageiro de Deus pregou a crença na Unicidade de Deus e que toda adoração era dedicada somente a Ele.

Não à dos abominados, nem à dos extraviados

Assim como a Senda Reta é descrita acima de forma positiva, os caminhos daqueles que se desviaram dela são descritos de forma negativa. Sempre pedimos ao nosso Senhor que nos afaste dos caminhos adotados por dois tipos de pessoas desviadas: os que sabiam a verdade sobre a religião e se recusaram a agir de acordo com ela, atraindo para si a ira de Deus.  O segundo grupo de pessoas é o daquelas que fizeram sua religião se adequar a seus caprichos e desejos e, dessa forma, se desviaram.  O Alcorão nos conta com alguns detalhes sobre os principais desvios, entre os quais os maiores são não ter respeito por Deus ou Suas palavras: atribuem a Ele atributos imperfeitos e até ofensivos; distorcem Suas palavras à vontade para que se adequem a seus desejos ou preferências e cometem imoralidades em nome da religião.

  ( In The Religion of Islam)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

O ISLÃO COBRE TODOS OS ASPECTOS DA VIDA




O Islã cobre todos os aspectos da vida; não é uma religião que só é praticada uma vez por semana ou durante celebrações específicas.  O Islã, através das palavras de Deus no Alcorão e das tradições do profeta Muhammad, que Deus o exalte, oferece conselho e orientação da alvorada até o anoitecer, do nascimento até a morte.  O Islã até ensina aos crentes a melhor maneira de saudar uns aos outros; é um modo completo de vida.

O que significa exatamente a palavra Islã?  É uma palavra árabe que vem da raiz sa-la-ma, que significa submissão à vontade de Deus. Também compartilha a mesma raiz para a palavra árabe que significa paz.  Entretanto, é uma palavra descritiva que implica em mais do que tranquilidade e calmaria, mas também abrange o conceito de segurança e submissão.  De fato, o Islã no sentido legal significa submissão ao Deus Único que nos concede segurança, paz e harmonia.  A palavra muçulmano (ou seja, aquele que se submete à vontade de Deus) também deriva da mesma raiz, como a saudação islâmica - Assalam.

Nos artigos anteriores discutimos o fato de que todos os crentes estão vinculados por vários meios.  O mais importante é a crença de que não há nenhuma outra divindade merecedora de adoração que Allah e que Muhammad é Seu mensageiro.  É isso que distingue os crentes dos não crentes.  Entretanto, os crentes também são lembrados dos vínculos entre eles toda vez que saúdam uns aos outros.  A saudação islâmica - "Assalam" é de fato uma invocação onde se pede a Deus para conceder proteção e segurança a seu irmão muçulmano. Essa saudação encoraja os crentes a ser uma comunidade mundial livre de lealdades tribais ou nacionalistas e vinculados pela paz e unidade.

O profeta Muhammad nos ordenou a saudarmos nossos companheiros muçulmanos que conhecemos e também os que não conhecemos. Assim, os crentes tentam estabelecer a paz e relações amigáveis saudando e encontrando uns aos outros.  Quando muçulmanos de qualquer nacionalidade, etnia ou cor se encontram, saudarão uns aos outros como uma família.  Os crentes também têm direitos uns sobre os outros.

O muçulmano tem cinco direitos sobre seu companheiro muçulmano: deve saudá-lo com "salaam", visitá-lo quando estiver doente, ir a seu funeral, aceitar seu convite e pedir a Deus que tenha misericórdia quando ele espirrar.

A saudação islâmica é Assalamu alaikum (que Deus lhe conceda proteção e segurança).  A resposta a isso é wa Alaikum Assalam. Essas breves palavras árabes permitem que os muçulmanos saibam que estão entre amigos, não estranhos.  Umas poucas palavras de saudação revelam muito.

"Quando fordes saudados cortesmente, respondei com cortesia maior ou, pelo menos, igual, porque Deus leva em conta todas as circunstâncias." (Alcorão 4:86)

As melhores saudações islâmicas incluem Assalam Alaikum wa Rahmatullah, que significa "que Deus lhe conceda proteção, segurança e misericórdia" e Assalam Alaikum wa Rahmatullah wa Barakatuh, que significa "que Deus lhe conceda proteção, segurança, misericórdia e que Ele lhe abençoe".  A saudação em retorno com algo melhor seria, por exemplo, depois de ouvir as palavras Assalam alaikum responder com wa Alaikum Assalam wa Rahmatullah.

Fazer esse pequeno esforço para saudar outros dessa forma a cada oportunidade aumenta as recompensas.  Cada vez que um crente diz as palavras Assalam alaikum ou responde a essa saudação, seu banco de boas ações é aumentado.

Um dia um homem passou pelo profeta Muhammad enquanto ele estava sentado com outros homens e disse "Assalamu alaikum".  O profeta disse: "Ele terá 10 recompensas". Outro homem passou e disse "Assalamu alaikum wa rahmatullah".  O profeta disse: "Ele terá 20 recompensas".  Outro homem passou e disse "Assalamu alaikum wa rahmatullah wa barakaatuh"  O profeta disse: "Ele terá 30 recompensas".

Além disso, em todo o Alcorão Deus repetidamente destaca que esse é a saudação islâmica. Deus nos assegura que o empenho para agradá-Lo resultará em paz e segurança no paraíso, e quando o crente entrar no paraíso será saudado pelas palavras Assalam Alaikum.

"Os crentes que tiverem praticado o bem serão introduzidos em jardins, abaixo dos quais correm os rios,  onde morarão eternamente, com o beneplácito do seu Senhor.   Ali, a sua saudação será: Salam (paz)!" (Alcorão 14:23)

"Assalamu alaikum (Que a paz esteja convosco) por vossa perseverança! Que magnífica é a última morada!" (Alcorão 13:24)

"Quando te forem apresentados aqueles que creem nos Nossos versículos, dize-lhes: Assalamu Alaikum (Que a paz esteja convosco)! Vosso Senhor impôs a Si mesmo a clemência, a fim de que aqueles dentre vós que, por ignorância, cometerem uma falta e logo se arrependerem e se encaminharem, venham a saber que Ele é Indulgente, Misericordiosíssimo." (Alcorão 6:54)

"De cujas almas os anjos se apossam em estado de pureza, dizendo-lhes: Assalam Alaikum (Que a paz esteja convosco)! Entrai no Paraíso, pelo que haveis feito!" (Alcorão 16:32)

"Quando entrardes em uma casa, saudai-vos mutualmente com a saudação bendita e afável, com referência a Deus, Assalamu alaikum." (Alcorão 24:61)

"Em troca, os tementes serão conduzidos, em grupos, até ao Paraíso e, lá chegando, abrir-se-ão as suas portas e os seus guardiães lhes dirão: Assalamu alaikum (Que a paz esteja convosco)! Quão excelente é o que fizestes! Adentrai, pois! Aqui permanecereis eternamente." (Alcorão 39:73)

O profeta Muhammad reiterou a mensagem de Deus quando disse: " Não entrarás no paraíso até que creia e não crerá até que se amem uns aos outros.  Devo dizer-lhes sobre algo que, se fizerem, farão com que amem uns aos outros?  Saúdem uns aos outros com Salam".
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